Ouvindo estas coisas, o Sr. Joãozinho, que tinha mais de grosseiro e bestial do que de perverso, dava punhadas sobre a mesa, despejava copos de quartilho e dizia pragas sacrilegamente eloquentes.
Outras vezes, era no tópico do cemitério que ardilosamente o espírito tentador do Brasileiro insistia. Fazia avivar a ideia ao morgado de que ele próprio tinha de ser ali enterrado, porque na freguesia de Pinchões iam também ser proibidos os enterros na igreja; o que este negava, berrando, e todos afirmavam o mesmo que o Brasileiro dizia; o que deu lugar a novas punhadas, novas irrigações e a novas pragas do Sr. Joãozinho.
No dia que dissemos, multiplicara o morgado, mais que de costume, as suas libações de vinho; e com as faces injectadas, os olhos meio fechados, ouvia com irritação os comentários dos circunstantes e distribuía com profusão pragas e murros.
- Com os diabos! - berrava ele, acabando de despejar um copo de quartilho. - Se me chega a mostarda ao nariz... sou homem para ir à igreja e obrigá-los a enterrar lá a pequena.
- Isso não se faz assim com essa facilidade e arreganhos - disse velhacamente o Brasileiro, de propósito para o irritar ainda mais.
- Eu lhe diria se se fazia ou não, se se tratasse de coisa que me dissesse respeito!... Mas, lá com a filha do Cancela... não tenho eu nada... lá se avenham.
- A questão não é ser a filha do Cancela ou deixar de ser - tornava o Brasileiro -; a questão é do exemplo; enterrado o primeiro, enterram-se os outros.