A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 417 / 508

Trajava sempre com distinção e esmero, e ao corrente das modas.

Tudo isto, e as próprias devoções da morgada acabaram por convencer o povo de que havia grandes culpas no passado dela, as quais procurava remir à força de missas. Dizia-se que a morte a viera tomar antes das contas saldadas, e que por isso a sua alma voltava à terra penando.

Já se vê que o lugar era para apavorar as imaginações tímidas e de noite pouca gente da aldeia gostava de passar por lá.

Henrique, depois de ter dito em Alvapenha que ia passar a noite ao Mosteiro, donde voltaria tarde, saiu mais cedo do que a hora devida, e, fazendo obra pelas informações da Morgadinha, dirigiu-se para os Canaviais para escolher posição donde pudesse, sem ser visto, observar Cristina, não tendo ainda resolvido se lhe apareceria ou se a deixaria imperturbada na sua piedosa tarefa.

A noite fizera-se escura e ameaçava chuva.

Henrique, alumiando-se com uma lanterna de furta-fogo, já um pouco habituado aos caminhos estreitos e escabrosos do campo, atravessou a aldeia, examinando com atenção todos os objectos que lhe deviam servir de indicadores da estrada.

Pouco passava das dez horas, quando se achou em frente de uma casa, que, por a aparência, julgou ser a demandada propriedade.

Era uma casa escura, crivada de pequenas janelas de peitoril, tendo a um lado o alto portão da quinta, do outro a capela, cuja porta Henrique achou inda fechada.

O sussurro dos canaviais agitados pelo vento era uma garantia de haver acertado.

Principiavam a cair algumas grandes gotas de chuva e a escuridão a fazer recear grandes aguaceiros.

Henrique achou prudente procurar um abrigo onde pudesse resguardar-se. Neste intento aproximou-se do portão. Com grande espanto seu, achou-o aberto.





Os capítulos deste livro