Já teria chegado Cristina?... Enganar-se-ia ele na casa?... Estaria habitada a quinta?... Estas três explicações do inesperado facto debatiam-se-lhe no espírito, sem que ele soubesse qual adoptar.
Transpôs o portão e entrou na quinta. Nenhuma aparência de vida.
A chuva caía com mais força. Para se abrigar, Henrique subiu os degraus de pedra, no topo dos quais havia um patamar lajeado e convenientemente toldado.
Ao chegar ali achou também aberta a porta da primeira sala, e ao fim de um corredor pareceu-lhe divisar luz.
Henrique parou indeciso.
- Decididamente enganei-me. Não é aqui a casa dos Canaviais. Sempre perguntarei.
E bateu as palmas.
Ninguém lhe respondeu.
Bateu outra vez; o mesmo resultado.
Aventurou-se a entrar, deu alguns passos no corredor e bateu.
O mesmo silêncio; seguiu até o fim o corredor em direcção à luz; chegou a uma sala mobilada com antigas cadeiras de alto espaldar, e alumiada por um candeeiro de metal, pousado na pedra da chaminé, em cujo foco brilhavam ainda uns carvões candentes.
- Parece uma história de fadas! - pensava Henrique. - Dar-se-á que a alma da morgada goste ainda das comodidades?
Ia a dirigir-se a uma porta para chamar, quando se abriu outra do lado oposto, e apareceu-lhe uma mulher velha, com um vestuário meio do campo, meio da cidade, e trazendo uma luz na mão.
Henrique voltou-se e preparava-se para lhe dirigir a palavra, quando ela primeiro lhe disse:
- Procurava alguém o senhor?
- Peço perdão pelo meu atrevimento. Bati muito tempo à porta, e, enfim, como a visse aberta, decidi-me a entrar. Desejava saber onde é aqui a casa dos Canaviais.
- A casa dos Canaviais é esta mesma.
- Mas... eu julgava... supunha ter ouvido dizer que não morava aqui ninguém.