A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 427 / 508

- Então porquê?

- Torcato é discreto, com umas meias palavras, que exprimem mais do que a verdade.

- Eu... - ia a dizer o velho, justificando-se, quando Henrique o interrompeu.

- Mas enfim, expliquemos mutuamente a nossa presença aqui.

- Nesse caso é justo que fale primeiro Cristina.

- Que hei-de eu dizer?

- Explica a tua presença aqui. Então não ouviste o primo Henrique?

- Ora, já o sabem.

- Mas talvez não lhe seja desagradável ouvi-lo outra vez da tua boca.

- Não, não, a minha vinda, essa não tem que explicar.

- Que diz, primo Henrique?

- Não tenho coragem para pedir mais do que tenho pedido já.

- Pedido e obtido, pode acrescentar. Bem, Cristina veio aqui trazida por um sentimento de piedade e de...

- Lena!

- Assim mesmo sempre seria curioso ouvir a narração dos sustos que ela sentiu por o caminho desde o Mosteiro até aqui. O Torcato não era decerto bastante para lhe limpar a estrada de visões e malfeitores.

Cristina pôs-se a rir.

- Mas vamos às explicações da presença dos mais. A Cristina avisou o Torcato, o Torcato avisou o primo Henrique...

- Eu?!

Cristina olhou para o velho com um meigo gesto de repreensão.

- Se eu o soubesse!...

- Eu... eu não disse... eu... eu só disse... Henrique tomou a palavra.

- Torcato não é de todo culpado. Pois acha que não haveria em mim alguma coisa que me ajudasse a adivinhar? Torcato atraiçoou- -se involuntária, inconscientemente. Mas, enquanto à prima...

- Eu? Soube-o também do Torcato.

- Pois também a ti o disse? Olhem que homem de segredo!

- Isso é que não. Eu não disse à Sr.ª D. Madalena... Ela é que...

- Foi o que eu disse há pouco. A discrição do Torcato é que revelou o segredo.

- Como?

- O Torcato falou com o seu velho amigo ervanário.





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