Uma Família Inglesa - Cap. 2: II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo Pág. 16 / 432

E não achava, de facto.

Possuía Carlos um destes génios que não suportam constrangimentos; ou hão-de romper com eles, ou evitá-los.

Calava-se, onde não podia abandonar-se aos caprichos de uma conversa fútil; entristecia, onde lhe fossem estranhas as expansões de uma alegria infundada, de um desses irresistíveis júbilos de criança que, como tal, em puerilidades se revela. Dessem-lhe a liberdade de poder ser estouvado, vê-lo-iam talvez sisudo; mas, forçado a isto, tornava-se sombrio e de mau humor.

Ora a austeridade de costumes de Mr. Richard Whitestone, a rigidez dos seus princípios de decoro e de respeito às praxes da etiqueta inglesa exerciam sobre Carlos uma influência, contra a qual não tinha coragem de revoltar-se; e por isso fugia-lhe.

No pai via quase sempre um juiz severo e inflexível, pronto a julgá-lo e a condená-lo talvez; e Carlos, que habitualmente trazia na consciência algum pecado de juventude a remordê-la, e que não confiava no seu poder de dissimular, furtava-se, quanto podia, às investigações do júri paternal, sempre antevistas por ele e bem longe às vezes do intento de Mr. Richard Whitestone.

Este, de seu lado, não amava menos extremosamente o filho; para as verduras da mocidade era indulgente, como, em tempos passados, desejara e precisara que fossem também consigo; Deus sabe que esforços lhe custavam até estes sisudos ares de convenção tão opostos ao fundo de desafogada jovialidade do seu carácter, e que não conseguiam dissipar o sorriso, que tinha como que estereotipado nos lábios.

Julgava ele, porém, do dever de pai e natural mentor que era de Carlos, conservar sempre certo ar de hombridade e de quase rudeza para com o estouvado que, não raro, lhe estava dando motivos para mais severas penas.

À sua precisão britânica repugnavam longos discursos de moral e prolixas catequeses.





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