As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 111 / 174

Apareceu na aldeia um circo, e, quando este se foi embora, os rapazes brincaram aos circos durante três dias, em barracas feitas de tapetes velhos.

Esteve em seguida um hipnotizador, e, quando se retirou, deixou a aldeia ainda mais triste e mais só do que nunca.

Houve algumas festas de rapazes e raparigas, mas tão poucas e agradáveis que faziam parecer os intervalos ainda mais longos.

Becky Thatcher tinha ido para a sua casa de Constantinopla passar férias com os pais, por isso não havia na vida de Tom nenhum vislumbre de animação.

O terrível segredo era um tormento constante que o martirizava permanentemente.

Houve uma epidemia de sarampo.

Durante quinze dias, Tom ficou prisioneiro, morto para o mundo e para o que se passava. Esteve muito doente e desinteressou-se de tudo. Quando, por fim, pôde levantar-se e, embora fraco, andar pela aldeia, achou tudo e todos muito mudados. Tinha havido um renascimento pela crença e toda a gente havia enveredado pela religião, não só as pessoas crescidas mas até os rapazes e as raparigas. Tom continuou a vaguear por ali, sempre na esperança de encontrar algum rosto de pecador, mas as decepções sucediam-se. Encontrou Joe Harper a ler a Bíblia, e afastou-se com tristeza daquele espectáculo que o deprimia.

Procurou Ben Rogers, que andava a visitar os pobres e a distribuir papéis com passagens da Bíblia. Dirigiu-se a Jim Hollis que lhe chamou a atenção para a preciosa bênção do último sarampo, que viera como um aviso. Todos os rapazes com quem falou lhe deram razões para se sentir desgostoso e quando, já desesperado, procurou abrigo junto de Huckleberry Finn e este o recebeu citando um versículo da Bíblia, desanimou. Vagarosamente, voltou para casa e para a cama, percebendo então que estava só, e que era de toda a aldeia o único perdido para sempre.

Nessa noite houve uma tempestade terrível, com muita chuva, trovões e relâmpagos. Cobriu a cabeça com a roupa e esperou aterrado que se cumprisse a sua sentença, porque não tinha sombra de dúvida de que todo aquele barulho era por sua causa. Julgava ter abusado até ao extremo da clemência dos altos poderes e que tudo aquilo era o resultado. Podia-se ter lembrado que era demasiada pompa e gasto de munições, uma descarga de artilharia para matar um bicho pequenino, mas não lhe pareceu disparatada uma trovoada assim para esborrachar um insecto como ele próprio.





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