As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 45 / 174

Mas, agora, Tom, vendo que se enganara redondamente, sentiu a sua fé deveras abalada. Já muitas vezes tinha ouvido falar deste feitiço como eficaz e nunca tivera notícias de semelhante insucesso. Não lhe ocorreu que já experimentara isto várias vezes sem conseguir depois achar os lugares onde escondera os berlindes. Pensou no assunto algum tempo, e por fim supôs que alguma bruxa se tivesse metido no caso, quebrando o encanto. Resolveu então investigar. Olhou em volta, até que descobriu um lugar onde a areia fazia uma pequena cova. Deitou-se de bruços e, pondo a boca junto dessa depressão, disse:

- Formiga-leão, formiga-leão, responde ao que quero saber! Formiga-

-leão, formiga-leão, responde ao que quero saber!

A areia começou a mover-se. Passados momentos um bichinho preto apareceu, para logo se sumir outra vez, assustado.

- Não diz! Está claro que foi uma bruxa que se meteu nisto. Bem me parecia.

Sabia perfeitamente que era inútil lutar contra as bruxas, por isso desistiu, mas lembrou-se de que podia apanhar o berlinde que atirara fora e pôs-se a procurá-lo, cheio de paciência.

Como não conseguisse encontrá-lo, voltou à caixinha de madeira; colocou-se como lhe parecia ter estado da primeira vez, quando arremessara o berlinde, e, tirando outro do bolso, arremessou-o do mesmo modo, dizendo:

- Irmão, vai buscar o teu irmão!

Observou onde o berlinde tinha parado e foi ver, mas o segundo devia ter ficado demasiado perto ou demasiado longe dele, pensou. Tentou mais duas vezes e à terceira foi bem sucedido, pois os dois berlindes estavam a pequena distância um do outro.

Precisamente neste instante, o som de uma corneta de folha ouviu-se noutro ponto da floresta. Tom despiu com ligeireza o casaco e as calças; fez de um suspensório um cinto; afastou umas ervas por detrás do tronco; tirou de lá um arco, algumas setas, uma espada de madeira e uma corneta de folha; agarrando em tudo rapidamente, correu, de pernas nuas e com a fralda da camisa a voar. Passados momentos parou de baixo de um ulmeiro, tocou a corneta em resposta ao outro e começou a caminhar nas pontas dos pés, olhando, sempre cauteloso, para um lado e para outro, ao mesmo tempo que dizia baixo, para uns companheiros imaginários:

- Cuidado, homens! Não se deixem ver sem eu tocar!





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