Por essa altura já Tom se tinha tornado indiferente. Esta fase foi a que mais consternou a senhora. Precisava quebrar esta frieza a todo o custo. Ouviu então, pela primeira vez, falar num certo tónico e encomendou logo uma porção. Provou-o e ficou radiante. Era simplesmente fogo no estado líquido. Pôs de parte o tratamento pela água e todas as outras coisas. A sua fé ia agora inteiramente para a célebre novidade. Deu uma colher de chá de remédio a Tom e, ansiosa, esperou pelo resultado.
Logo as suas preocupações se desvaneceram e a paz voltou à sua alma, pois a «indiferença» desaparecera. Se pusessem uma fogueira debaixo de Tom, ele não poderia mostrar maior vivacidade.
Tom achou que já era tempo de despertar; aquele género de vida podia ser muito romântico para as suas condições, mas começava a ser demasiado sentimental e monótono. Pensou, pois, em vários processos de o modificar, e decidiu por fim mostrar grande predilecção pelo tal tónico. Assim, pedia-o tanta vez que acabou por se tornar maçador, e a tia disse-lhe que o tomasse quando quisesse, sem a importunar. Se tratasse de Sid, ela ficaria muito descansada com esta solução, mas, tratando-se de Tom, começou a vigiar a garrafa às escondidas; o remédio diminuía, de facto, e não ocorreu à senhora que o rapaz o desse a tomar a uma fenda do chão do quarto.
Um dia, quando Tom estava aplicando esse tratamento, apareceu junto dele o gato amarelo da tia fazendo ronrom e olhando gulosamente, como quem pede para provar. Tom disse-lhe:
- Não mo peças, a não ser que o queiras, Peter. Mas Peter mostrou realmente que o queria.
- Vê lá bem se tens a certeza.
Peter tinha a certeza.
- Já que mo pedes, vou dar-to, porque não sou avarento, mas, se vires que não gostas, não te queixes de ninguém senão de ti próprio.
Peter concordou, por isso Tom conservou-lhe a boca aberta e fê-lo engolir uma colherada de remédio.
Peter deu um pino te de alguns metros de altura, soltou um grito de guerra e pôs-se a correr à roda da casa, tropeçando nos móveis, virando jarras de flores e espalhando a ruína à sua volta.