A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 9: IX Pág. 127 / 508

IX

Dois dias depois da chegada de Henrique, e naquele que se destinara para o passeio à ermida, Cristina foi mais madrugadora do que as aves. À hora a que estas ainda se não agitam nos ninhos, já a prima de Madalena abandonava o leito, receosa de se fazer esperar pelos companheiros da projectada excursão matinal.

Quase não dormira toda a noite aquela rapariga, com tal preocupação.

As estrelas viram-na erguer, e tiveram muito tempo de se despedirem dela, antes de se esconderem discretas ante o aparecimento do dia.

Cristina vestiu-se à pressa e dirigiu-se ao quarto de Madalena.

Esta dormia ainda. O projecto do passeio à ermida não a alvoroçara tanto. Cristina foi acordá-la ao leito.

A Morgadinha abriu os olhos e fitou-os admirada na prima.

- Que queres tu, Cristina? Que lembrança foi essa hoje de andares estremunhando a casa esta noite?

- Levanta-te, preguiçosa, levanta-te. Não o dizia eu ontem? Então são estas as madrugadas que falavas?

- Decerto que não são madrugadas; isto é noite, é o que é.

- Dentro em pouco é dia. Queres ver? E, dizendo isto, Cristina abriu para trás as portas das janelas e correu as cortinas.

A estrela da manhã, Vénus, aquela brilhante e ao mesmo tempo suave estrela, que umas vezes assiste no crepúsculo às melancolias da natureza, outras vezes na aurora ao renascimento dos seus júbilos, cintilava mesmo defronte do leito de Madalena.

- Vês? - disse Cristina.

- Muito pouco. É esse o teu sol? Como vai alto! É pena que não alumie melhor do que esta lamparina.

Cristina sentia redobrar com estas delongas a sua impaciência, quase de criança.

- Anda, Lena, anda. Assim não chegamos a ver do alto da ermida o romper do Sol.

- Pois queres ver isso de lá?! Que crueldade! Em uma manhã de Dezembro!

- Está tão bonita, que parece de Primavera.





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