A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 17: XVII Pág. 253 / 508

De vez em quando a recordação das cenas nocturnas da véspera desviava-lhe para outra ordem de reflexões o pensamento; acudiam- lhe todos aqueles incidentes à memória, mas vagos e confusos, como se tivessem sido sonhados; chegava quase a duvidar da realidade deles.

Agora estava experimentando certa curiosidade e também receio de saber como seria recebido pela Morgadinha e que posição deveria tomar na presença dela.

Formava a este respeito várias conjecturas, sem se fixar em nenhuma.

Destas cogitações veio por fim arrancá-lo o toque da campainha anunciando o almoço.

- Vamos - disse Henrique -; preparemo-nos para o primeiro embate. Apuremos a vista para num relance julgar do estado das coisas, e por ele regular o meu plano de táctica.

E, depois de uma rápida consulta ao toucador, desceu para a sala do almoço.

Já ali encontrou reunida toda a família do Mosteiro e a Morgadinha presidindo à mesa e preparando o chá.

Todos saudaram Henrique e a um tempo se informaram da maneira por que ele tinha passado a noite.

Henrique respondeu que a tinha dormido deliciosamente, e, falando, desviava o olhar para Madalena, que o encontrou do modo mais natural, sem timidez nem audácia.

Seguiram-se os cumprimentos em particular, chegando, portanto, a vez de cumprimentar Madalena.

- Bons dias, prima Madalena - disse Henrique, estendendo- -lhe a mão e fixando-a com olhar investigador.

Madalena respondeu-lhe ao cumprimento, com sorriso que nada tinha de afectado nem de constrangido.

- Bons dias, primo Henrique. Devem-lhe parecer horrorosos estes nossos hábitos matinais. Foi uma indiscrição mandar tocar a campainha. Esqueci-me de prevenir que lhe respeitassem a indolência cidadã.

- Eu é que não consentia - disse o conselheiro.





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