A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 17: XVII Pág. 256 / 508

Esperava ela que as atenções de Henrique, durante o passeio, seriam para Cristina, se não decorresse o tempo preciso para que se dissipasse no espírito do volúvel rapaz a impressão que o dominava.

A manhã convidava a excursão campestre. A proposta da Morgadinha foi acolhida com aplauso. O conselheiro prometeu acompanhá-los até à casa do ervanário, a quem tinha de visitar aquela manhã.

Levantaram-se todos da mesa, e à excepção de D. Vitória e D. Doroteia, todos saíram.

A Morgadinha, sob não sei que pretexto, deixou-se ficar um pouco atrás para dar tempo a Henrique de oferecer o braço a Cristina, o que efectivamente aconteceu.

- Bem - disse Madalena consigo, ao vê-los - agora que os anjos bons de um e de outro se convençam da obra meritória que fazem entendendo-se.

E, aproximando-se do pai, Madalena apoiou-se-lhe no braço.

Ângelo ia com as crianças adiante.

Aproximemo-nos nós de Henrique e de Cristina, para ver se os anjos bons deles ambos acederam ao convite de Madalena.

- Não há prazer que se compare ao de um passeio assim pelos campos, numa manhã como a de hoje, e em companhia tão amável - dizia Henrique, procurando aquilatar o espírito da sua partner, num certame de galanteria, fora do qual não concebia que se pudesse temperar uma paixão.

Pobre rapariga! Que eloquentes e apaixonadas respostas lhe estava porventura ditando a alma! Mas o enleio da timidez fechava-lhe os lábios, não lhe deixando formulá-las; apenas pôde responder:

- Está muito agradável a manhã, está; nem parece de Inverno!

- Pelo que vejo, não gosta do Inverno? É natural em uma senhora isso. Faltam-lhe as flores e as aves, suas irmãs. Eu prefiro o Inverno, porque prepara a vida íntima, as cenas ao canto do fogão, as leituras em comum, e traz-me à ideia as imagens de viver a que a fantasia de todos sorri; de todos os que têm um resto de coração; refiro-me às imagens de uma família.





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