A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 21: XXI Pág. 338 / 508

A sua proposta seria para mim o maior dos insultos, se não fosse tal a baixeza dela, que até despe de toda a imputação a pessoa que a faz. Os homens, faltos de sentimentos de honra, não ofendem, quando insultam; não se lhes pode pedir razão da infâmia, porque não a conhecem como tal; identificaram- se com ela. Por isso, só me resta um partido, é convidá-lo a sair.

O Brasileiro fora erguendo-se à medida que Augusto falava.

Estava espantado por ver que um rapaz, sem um vintém de seu, ousasse falar com tal irreverência a um homem que tinha dinheiro e crédito em tantos bancos! A ordem do Mundo estava perturbada!

- Ora esta! - disse ele no fim. - Então o senhor ordena-me?...

- Que saia! - respondeu Augusto, indicando-lhe a porta.

O Brasileiro estava pasmado. Olhou para Augusto como se duvidasse do que ouvia; deu dois passos para a porta e tornou a olhar, seguiu outra vez, e, no limiar, parou para dizer:

- Veja lá o que faz! Eu só lhe digo que me não convém dar a minhas filhas um mestre de soberbas.

- Decerto que lhe não poderá convir a educação que eu desse a suas filhas; é natural não querer educar consciências que sejam juízes da sua corrupção. Deixe-as ignorantes, para não ser castigado pelo desprezo delas.

- Quer então dizer...

- Que lhe desejo muito boas noites, Sr. Seabra.

O Brasileiro saiu, bufando.

Augusto, que ficara só, sentiu-se apertar nos braços de alguém que entrou, sem ele sentir.

Era o ervanário.

- É assim, é assim que te vingas de todos, rapaz! Esmaga-mos com a tua nobreza! Augusto sorriu tristemente.

- O pior é, meu amigo - disse ele - que é a segunda subtracção que hoje se opera no meu orçamento, e... a nobreza não nutre!

- Mas consola! - replicou o velho.





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