A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 22: XXII Pág. 352 / 508

.. e alguém que tem aqui entrada a todo o momento... Enfim... eu não quero seguir mais adiante este antipático pensamento, que talvez fosse rejeitado com indignação por quem me escuta e atribuído a mesquinhos ressentimentos da minha parte.

- Faz bem em o abandonar, primo Henrique - disse Madalena, com severidade. - Entre ser vítima de uma traição e culpada de uma suspeita injusta, cruel e maligna, prefiro arriscar-me à primeira sorte. Se um passado inteiro de honra e de probidade, se um carácter provado nas mais tentadoras situações da vida, se um nome enobrecido pelo infortúnio não são garantias bastantes para proteger um homem contra os ataques da suspeita, não quero entrar nessa pesquisa inquisitorial, que nada respeita, que é capaz de lançar sacrilegamente a dúvida entre pais e filhos, entre irmãs e irmãos. Inocente, prefiro aguardar a calúnia; culpada, o castigo, a sentar-me como juiz nesse tribunal ímpio que quer arvorar.

- Previ essas palavras, prima Madalena; por isso hesitei. Lamento sinceramente ter já perdido no uso do mundo uma tão simpática e adorável boa-fé nos outros, que é a maior prova de candura que se pode dar do próprio carácter.

D. Vitória não percebeu nada deste rápido diálogo; por isso exclamou:

- Mas que estão vocês aí a dizer? De quem falam? Eu, se vos entendo! Enquanto a mim, foram os criados, e disto é que ninguém me tira.

Abriu-se neste momento a porta da sala e apareceu Augusto. Era a hora das lições dos pequenos.

Conquanto, desde o termo das férias, Augusto viesse todos os dias ao Mosteiro, era aquela a primeira vez que se encontrava com Madalena e com Henrique, depois da cena que entre eles se passara na noite de Natal.

A Morgadinha fitou por momentos nele os olhos; pareceu-lhe mais pálido e triste do que de costume.





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