Dominado por os mais enérgicos e desencontrados sentimentos, Augusto saiu do Mosteiro, ainda sem plano formado, sem tenção definida, mas compreendendo vagamente a necessidade de abraçar uma resolução qualquer.
As palavras que D. Vitória inconsideradamente soltara, tinham-lhe feito conceber a suspeita de que Henrique não fora alheio à calúnia que pesava sobre ele. Daí a atribuir-lhe todo o plano da intriga não ia longe, e justo é confessar que não era destituída de plausibilidade a ideia.
A espécie de aversão recíproca que, desde o primeiro encontro, os dividira, a maior veemência da entrevista na noite de Natal, em que ficara pendente entre eles uma provocação, só à espera de pretexto, concorriam para dar vigor a esta suposição.
Por isso, depois de por muito tempo percorrer à toa os caminhos dos campos, sem consciência nem destino, Augusto encaminhou-se resolutamente para Alvapenha.
Estava ainda pouco senhor de si para meditar nas circunstâncias que ocasionaram a sua acusação. Mal poderia até dizer do que era acusado. Percebeu que se tratava de um abuso de confiança, de uma infâmia, mas a impressão recebida fora tal que não o deixara investigar os pormenores do facto. Previa em tudo isto uma traição, e, para a esclarecer, dirigiu-se à única pessoa de quem lhe parecia provável que ela partisse.
Quando chegou a Alvapenha, já tinha ali passado a hora de jantar.
Henrique retirara-se para o quarto; D. Doroteia e Maria de Jesus, aquela dobando, esta fiando, aproveitavam o tempo a rezar parte das suas longas orações quotidianas.
Quando Augusto bateu à porta, estavam elas de volta com a ladainha, que D. Doroteia dizia em latim, a seu modo, e a que Maria de Jesus respondia no mesmo idioma.
- Turris e burris, fedilisarca, espeque da justiça, Joannes asellis - dizia D.