Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 25: XXV

Página 383
XXV

Era uma perspectiva profundamente melancólica a do cemitério da aldeia por aquela tarde de Inverno! Imagine-se um campo plano e raso, onde vegetavam algumas roseiras de toda a estação, e a murta e a alfazema, vivendo a custo naquele solo ingrato, que havia pouco alimentava apenas urzes, tojeiras e pinheirais. No centro deste espaço elevava-se, singelo mas elegante, o túmulo da família do Mosteiro, sobre o mármore do qual pousavam tristemente os ramos flexíveis de um salgueiro-chorão, e nos cantos principiavam a erguer-se, como obeliscos funerários, quatro jovens ciprestes pontiagudos. Para além do muro, que circundava este terreno, estendia-se um vasto pinheiral, através de cujos troncos, confusamente cruzados, se podia ainda divisar ao longe uma ou outra casa da aldeia, e o verdor dos campos e pomares.

A igreja paroquial erguia, a pequena distância dali, a grimpa do campanário, e o sussurrar dos álamos despidos do adro, agitados pelo vento, ainda chegava àquela estância mortuária.

A tarde tinha um destes aspectos ameaçadores, que deixam pressentir a tempestade; destas serenidades insidiosas, interrompidas, de quando em quando, por uma súbita viração, que faz revolutear na estrada as folhas secas como em espirais fantásticas. O céu pintara-se do colorido melancólico e triste, que em alguns quadros de Anunciação tão fielmente se vê reproduzido. Estava quase todo coberto! Só muito para o Ocidente uma estreita zona se conservava limpa de nuvens, mas nela mesma o azul recebia, do contraste das cores vizinhas, um cambiante quase esverdeado. As nuvens inferiores, acima das quais passavam os raios do Sol, tinham o aspecto roxo-lívido, que o avizinhar da noite ia tornando mais carregado; no mais alto da abóbada, as superiores, iluminadas ainda, apresentavam reflexos amarelados que cada vez se afogueavam mais.

<< Página Anterior

pág. 383 (Capítulo 25)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 383

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506