A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 25: XXV Pág. 396 / 508

Saíram desde que viram os ânimos pouco dispostos a secundá-los.

Os circunstantes quase faziam já coro com as arguições do Cancela contra os excessos do fanatismo e do beatério.

- A falar a verdade - dizia um - este pobre homem tem alguma razão. Isto de meter cismas às crianças!...

- E a Rosita do Gaudêncio olha que vai por a mesma.

- Também é de mais.

- Eu por mim se fosse a ele... Não sei o que faria.

Nestes e noutros dizeres se iam retirando do cemitério.

Não seria difícil a um espectador aproveitar aqueles mesmos braços e armas para organizar uma sedição sobre uma divisa oposta à que primeiro os convocara.

Ao ver cerrar-se a campa sobre o corpo da filha, o Cancela caiu de joelhos, sufocado em pranto.

As crianças presentes, por o contágio da comoção, a que é tão sujeita aquela idade, choraram também.

Madalena ia a consolá-lo, mas o sentimento próprio não a deixou falar.

Só pôde pousar-lhe em silêncio a mão no ombro.

O Cancela apoderou-se dela, e, levando-a aos lábios, rompeu em mais desafogado pranto do que nunca.

A noite crescia; cada vez era mais cerrado de nuvens o firmamento.

Os sons das Ave-Marias vibraram nos ares, prolongados e tristes. O padre velho pronunciou em voz alta a saudação angelical. Responderam-lhe as crianças.

Tudo concorria para aumentar a extrema melancolia do quadro.

O Cancela a muito custo se resignou a arrancar-se dali.

A Morgadinha voltou a casa com o coração opresso de tristeza.





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