A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 25: XXV Pág. 395 / 508

- Na igreja?... Isso é que não! Sabem quem me matou a filha? Foram eles... Esses que ma tolheram de medos, que lhe roubaram as alegrias... que fizeram dela isto que aí vedes... Pois não a conheciam? Não a tinham visto aí nos campos, nas novenas e nas festas?... Viram-na nunca com estas cores desmaiadas? Viram-na sem aqueles cabelos louros, que tão bem lhe ficavam? E que eles cortaram sem piedade? E querem-te ainda guardar, desgraçadinha! Não, não te entregarei. Não, não irás lá para dentro. Quero-te aqui, minha filha; aqui, debaixo dos olhares de Deus... Eu mesmo te vou deitar como tantas vezes o fiz quando dormias no berço, que ficará sempre vazio! Ó meu Deus, que vida vai ser a minha, se te não compadeces de mim, Senhor!... E, sufocado de pranto, que rompia agora abundante, o desesperado pai ajoelhou junto do esquife, onde depôs com cautela o corpo da filha.

- Obrigado, menina Madalena, por dar à minha pequena um lugar ao pé de sua mãe; obrigado. Junto daquela santa parece-me que dormirá em sossego... A minha pobre filha!

E, pousando nos lábios frios da criança um beijo prolongado, cheio de paixão e de saudade, levantou o esquife nos braços para, por suas próprias mãos, o descer ao jazigo. Antes, porém, de fazê-lo, beijou ainda uma vez aquela de que mal podia separar-se.

Cedo baixou sobre o pequeno esquife a pedra tumular.

Nem um só movimento, nem uma só voz tentou opor-se àquele acto, contra o qual momentos antes se erguia irreprimível a resistência popular.

Os influentes mais insofridos tinham abandonado o campo.

O primeiro que o fizera fora o missionário. Desde que vira assomar a figura do Cancela, vieram-lhe ao espírito umas memórias pouco agradáveis, e julgou avisado retirar a tempo.

Ao terminar esta cena, o próprio morgado e o inseparável Cosme já não estavam presentes.





Os capítulos deste livro