Chegara o prazo e dia assinalado de se dar perante a urna a batalha eleitoral.
A azáfama política activara-se nestes últimos dias consideravelmente.
De parte a parte, tinham-se posto em campo todos os influentes e em exercício todas as armas. Promessas, aliciações, pressão de autoridades, exigências a dependentes, subornos, ameaças mais ou menos declaradas; de tudo se lançava mão.
Às vezes até o calor das discussões degenerava em pugnas menos pacíficas; os argumentos físicos, que figuram no catálogo das razões mais convincentes, haviam já sido invocados a pleitear ambas as causas, berrando-se depois, de um lado, contra a violência e o despotismo do governo, do outro, contra os manejos sediciosos e anárquicos da oposição.
Em algumas freguesias que entravam neste círculo eleitoral, eram os padres que, arvorando a cruz e o estandarte, pregavam a cruzada contra o conselheiro e instavam com o povo para que não elegesse para representante um ateu e um pedreiro-livre; em outras eram os agentes do Brasileiro e os da autoridade fazendo promessas aos caudilhos populares; resgatando penhores, levantando hipotecas, remindo dívidas, empregando afilhados, e conquistando assim para o seu partido.
O conselheiro e os seus parciais não desprezavam também nenhum destes mesmos meios, e grossas quantias circulavam a combater as do brasileiro Seabra.
Os periódicos do Porto e de Lisboa recebiam os ecos desta batalha.
Havia muito que em longas e difusas correspondências os gladiadores dos dois campos se mimoseavam com as mais descabeladas verrinas, assinando-se: O Amigo da verdade; o Epaminondas; o Vigilante; a Sentinela; o Alerta, etc., e pondo ao soalheiro as máculas da vida privada uns dos outros e todas as bisbilhotices da terra; correspondências que felizmente para o crédito da humanidade, por ninguém mais, além dos interessados e dos que já os conheciam, eram lidas.