A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 29: XXX Pág. 445 / 508

eu dizia, pusemo-nos a falar, e eu estava-lhe dizendo que o povo o vingaria da afronta que lhe fizera o conselheiro, porque ia dar a este um xeque de que ele se havia de lembrar toda a vida, quando o Vicente, que me ouvia de dentro, chamou- me e mandou-me entrar. Foi então que eu o vi... Parecia-me outro!... Imaginem vocês, outro tanto de magro e outro tanto de velho... Metia dó! Pôs-se a perguntar-me muitas coisas, o que havia, o que não havia, por quem estava este, por quem estava aquele... Eu disse-lhe tudo: que o conselheiro, por mais que fizesse, já não podia vencer; que não arranjaria os votos precisos para cobrir a freguesia de Pinchões. O velho ficou admirado quando eu lhe disse que o Sr. Joãozinho era dos nossos. E lá o deixei a remoer a notícia. Ao menos resta-me a consolação de lhe ter adoçado com ela os últimos momentos.

Neste ponto da conversa viram passar por eles Henrique, que ia ter com um agente eleitoral, a sugerir-lhe uma ideia para vencer não sei que eleitor recalcitrante.

- Aí anda este - disse um dos do grupo, seguindo-o com a vista. - Era bem feito que lhe dessem outra lição, como a da taberna do Canada.

- Ordem, ordem e prudência! - disse o Pertunhas. - É preciso manter a liberdade da urna, senhores, e as garantias constitucionais!

- Mas que tem este senhor com as nossas eleições?

- Quem o manda meter-se cá nestas coisas?

- Ora é boa! Então não sabem que ele casa no Mosteiro? - disse o Pertunhas, que andava sempre informado das vidas alheias.

- Sim?!

- É verdade. Há pouco, quando eu estava falando com Augusto, veio a nós o José Barbeiro, que nos deu essa novidade, que lha dissera o Manuel da Quinta, que a ouvira à Gertrudes, criada do Mosteiro.

- Casa com a Morgadinha, já se sabe!

- Pois vedes! Não que a bolada convida! A mim logo me farejou isso, quando vi chegar este figurão cá à terra.





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