Uma Família Inglesa - Cap. 10: X – Jenny Pág. 113 / 432

Há exemplos de perfumes tão subtis que, aberto o vaso que os contém, quase instantaneamente se dissipam na atmosfera; assim estes mistérios interiores, inconsistente alimento da nossa fantasia, perdem-se também, ao tentarmos comunicá-los.

Guarde cada um para si essa parte do pensamento, superstições infundadas, crenças pueris, que não podem separar-se de nós, sem que nós próprios as desconheçamos e com os estranhos zombemos delas, das pobres, que não nasceram para viver senão assim, presas à alma, de cuja essência parece receberem vida.

São como umas delicadas algas marítimas cuja textura tenuíssima se expande na água em formosas arborizações iludindo as esperanças dos que, namorados de tanta beleza, as arrancam de lá; fora do ambiente em que vegetam, cedo se mirram e desformam.

Bem lúcida e forte era a razão de Jenny, e contudo, no mundo interior, nutria a crença ilusória – pelo menos ilusória me parece, a mim que de fora a examino – de que aquele retrato de sua mãe não tinha uma expressão invariável.

Eu queria dizer que isto era sentido, e não pensado, pela bondosa menina; mas não sei se o rigor filosófico me permitirá a linguagem; e contudo, não vejo como de outra sorte dar conta deste frequente fenómeno psicológico – o da persistência de certas crenças irracionais, nos espíritos mais vigorosos e lógicos.

Dias havia em que nos traços e delineamentos daquela miniatura Jenny julgava descobrir um ar de alegria, que logo se lhe insinuava no coração; outros em que, pelo contrário, ganhavam vulto a seus olhos não sei que sombras de tristeza, que a faziam estremecer, como se fossem presságio de mal.

Seriam reflexos de pressentimentos próprios que então a iludiam? Talvez; e ficar-se-á compreendendo melhor o mistério, interpretando-o





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