Uma Família Inglesa - Cap. 13: XIII - Vida portuense Pág. 151 / 432

Manuel Quintino, que tinha razões para saber o que era o amor de pai, limpou uma lágrima a ocultas. José Fortunato, com ser boa criatura, tinha, em circunstâncias assim, certas observações secas, de fazerem perder a paciência a um santo.

Ouvindo ler aquilo, disse:

– Ora! Isso é história! Os gazetilheiros às vezes…

– História! Ó Sr. Fortunato, por quem é! – exclamou Cecília impaciente. – Lembre-se de que é um irmão a querer salvar um irmão, e a vê-lo morrer; de que é um pai que perde dois filhos; não acha ainda razão de mais para a morte ou para a loucura?

– Pois então o outro que não fosse meter-se ao perigo; devia lembrar-se…

– Ora devia lembrar-se!… Quem se lembra de nada naqueles momentos? O Sr. Fortunato tem coisas!

Fortunato já estava arrependido do que dissera.

– Com menos motivos – acudiu Manuel Quintino – se arriscou há tempos na Foz o Carlitos, lá o filho do meu patrão. Virou-se no meio do rio um pequeno barco valboeiro, que ia governado por duas crianças, uma das quais nem sabia nadar; e ele, que andava às gaivotas com outros ingleses – que é o seu gosto – não esperou mais nada e zás… mergulhou como um peixe e salvou a criança. Depois continuou a caçar, com a roupa molhada no corpo, ainda por muito tempo, em termos de ganhar qualquer doença.

Cecília estava tão entretida a examinar não sei o quê, que vinha no periódico, tão perto tinha os olhos das letras, que julgo nem dava atenção ao episódio narrado por Manuel Quintino.

É verdade que, assim que o Sr. José Fortunato, depois de ouvi-lo, disse, com os seus modos secos: – «Estroinices», Cecília levantou a cabeça com ímpeto e fitou-o corando e com uma expressão pouco lisonjeira para o velho.

Eu não sei bem explicar este movimento em uma pessoa distraída, como ela estava, movimento que aliás não teve consequências, pois, voltando à posição anterior, passou a ler o folhetim.





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