Uma Família Inglesa - Cap. 14: XIV - Iminências de crise Pág. 165 / 432

Mas, instantes depois, alguma coisa se passou, que foi como que o laço de união entre o objecto das contemplações dos olhos e o das do espírito, que, desde então, se associou àqueles, no exame da modesta vivenda, em cujas vidraças o sol simulava a aparência de um vasto incêndio.

O fenómeno nada tinha de extraordinário contudo. Na varanda de cima aparecia uma mulher; nada mais. Mas esta mulher, ainda que a distância mal permitisse distingui-la, mostrava, pela elegância de estatura e pela vivacidade de movimentos, ser ainda jovem. Não era para estranhar que a imaginação de um rapaz de vinte anos a supusesse também formosa.

Viera examinar a roupa, que estava a corar ao sol; tirava uma e substituía-a por a que trazia de dentro; mais adiante, mudava a face exposta de outra; de quando em quando interrompia o trabalho e olhava para fora, pondo a mão por cima dos olhos, como a abrigá-los da intensidade da luz; outras vezes, voltava-se para a sala e parecia falar a alguém de dentro. Depois desaparecia; voltava de novo, e sempre, com manifesta solicitude, aplicada ao trabalho.

Carlos seguia com prazer o ir e voltar daquela mulher, que a custo distinguia, mas que nem por momentos imaginou que pudesse ser uma criada.

Ele, que estivera sonhando com os encantos do viver íntimo, aprazia-se de imaginar agora, naquela casa, um desses mundozinhos modestos, que lhe estava a apetecer.

– Uma esposa, nova por certo, canseirosa com os negócios domésticos… – pensava ele.

– Deve ser um prazer indefinível sentir-se a gente viver sob os cuidados de um destes entes, votados assim inteiramente à nossa felicidade…

Era natural, desde que pensou isto, que se lembrasse de Jenny. Lembrou-se, é verdade; mas a imaginação sorriu afectuosamente àquela doce imagem, e deixou-a.





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