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Capítulo 16: XVI - No teatro

Página 189

Manuel Quintino calou-se logo, prometendo a continuação para o primeiro intervalo.

Antes do fim do acto, deu-se na plateia um incidente vulgar no nosso teatro, e cuja frequente repetição, em certos anos, mantém em perpétua tribulação o espírito dos empresários.

À entrada da prima-dona, e antes dela soltar a primeira nota, romperam de um dos lados da sala alguns sinais de desagrado.

A maioria do público, alheia às altas questões de bastidor, elementos destas súbitas tempestades, estranhou ver assim reprovar quem, dias antes, se aplaudia com frenesi, porventura exagerado.

Manifestou-se portanto reacção, extremaram-se os campos, desenvolvendo-se, de parte a parte, um ardor que, durante alguns minutos, interrompeu o espectáculo.

Na plateia tudo era movimento e confusão; nos camarotes, os homens penduravam-se, para observarem, au vol d’oiseau, a borrasca humana que se lhes desencadeava aos pés, e alguns, menos pacientes, formulavam, lá de cima, acerbas censuras, que se perdiam no espaço; as senhoras quase desmaiavam de assustadas; outras, mais animosas, examinavam a binóculo as peripécias da contenda; a orquestra, deixando de tocar, e erguida em massa, passara a ser espectadora; os cantores cruzavam os braços e imitavam-na; os habitantes das varandas, – porventura os únicos espectadores de boa fé e de amor de arte sem mescla, – urravam de indignados; a autoridade punha-se em pé no camarote e pedia para ser ouvida…

No meio deste tumulto, Mr. Richard dava evidentes sinais de desagrado, traduzidos por muitos hos!, por muitos estalidos de língua, por muito sacudir de cabeça e por pancadas de impaciência com os nós dos dedos no encosto do camarote.

Manuel Quintino, igualmente escandalizado, era mais verboso na expressão da sua indignação.

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pág. 189 (Capítulo 16)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 189

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432