Uma Família Inglesa - Cap. 3: III - Na Águia de Ouro Pág. 31 / 432

–, bebo aos teus vinte anos! Contes pelos trezentos e sessenta e cinco dias que se vão seguir ao de hoje as paixões que fizeres nascer; e possas tu…

– Não se admitem longos speeches; olá! Bebamos! – disse uma voz.

– É sempre mais expressivo o gole que entra, do que a frase que sai – acrescentou outra.

– Até porque, devendo sempre dar-se a primazia ao mais sábio, é o vinho que a merece; pois é ele, neste momento, o que mais sabe.

– Ora faz-nos o favor de nos poupar, ao menos agora, à difícil digestão dos teus calembours.

– Então? Bebamos! – insistiu o coro.

E o brinde foi geral.

Carlos correspondeu constrangido àquela saudação. Parecia-lhe estar vendo Jenny, a olhá-lo com uma expressão de amigável desgosto; Jenny, a única a fazer companhia ao velho negociante, que não pouco devia ter sentido a ausência do filho. Durante toda a noite já não era para o pobre rapaz dissipar completamente aquela impressão penosa.

Apoderara-se de Carlos Whitestone um pensamento fixo, um quase remorso de se ver ali; e este efeito, se não lhe distraía completamente a atenção dos assuntos que na sala se tratavam, enfraquecia-lhe a intensidade dela a ponto de nem já tomar parte nas discussões, nem o ocuparem, por muito tempo, as ideias aventadas por os outros.

À placa da câmara escura, não preparada na oficina fotográfica, é comparável o pensamento, em ocasiões assim. Lá se gravam ainda as imagens das coisas exteriores, mas, não as fixando a atenção, dissipam-se rapidamente, removidos os objectos que as motivaram.

Daí o tom distraído e indiferente das raras observações feitas por Carlos no resto da noite, e a impaciência de algumas respostas que foi forçado a dar.

Entre muita coisa que se disse na sala, eis o que ele ouviu, sem escutar; a qualquer destes assuntos não costumava Carlos, nas ordinárias disposições de espírito, recusar atenções, nem esquivar a concorrência própria.





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