Uma Família Inglesa - Cap. 30: XXX - Peso que pode ter uma leviandade Pág. 351 / 432

Era contudo afável e segura a voz com que ela se dirigiu aos amigos de Carlos.

– Peço desculpa de os ter feito esperar. Julgámos que meu irmão tinha já saído e viemos ambas procurar um livro.

E depois, mostrando-lhes Cecília:

– É minha amiga… ou mais do que amiga… é quase minha irmã. – E acrescentou, sorrindo para ela: – Cedo o será, não é verdade?

Cecília estremeceu e voltou para Jenny o olhar admirado. Ia talvez a falar.

Jenny reprimiu-a, apertando-lhe ocultamente a mão; e prosseguiu, sorrindo:

– Perdoe-me a indiscrição, Cecília; talvez até nem indiscrição fosse já porque… estes senhores são… os amigos de meu irmão Carlos.

E estas palavras soube dizê-las Jenny com delicada flexão de ironia na voz, que aumentou o embaraço dos que a escutavam.

Curvando-se ligeiramente para eles, Jenny saiu da sala com Cecília.

Carlos não ousou erguer os olhos para a irmã.

Vendo-a sair, voltou-se para os seus antigos companheiros, que principiavam a formular desculpas, e disse-lhes com provocadora frieza:

– Espero que estará satisfeita a sua curiosidade. Ordenam mais alguma coisa?

– Desculpa, Carlos; nós julgámos…

– Tu bem vês que não sabíamos…

– Ó menino, acredita que…

– Palavra, que pensei que era a do dominó.

– Também eu.

– Espero que não leves a mal.

– Aquilo era brincadeira.

– Adeus, Carlos; aparece. Faz-te visível.

– Mil perdões e… e parabéns.

E deixaram o quarto.

Na rua diziam:

– E esta!

– Carlos casar-se!

– Requiescat in pace!

– Ámen.

A porta a fechar-se sobre o último, e Carlos a correr à biblioteca para ajoelhar aos pés da irmã.

– Jenny! Jenny! O amor que eu te tinha é pouco para o que te devo. É preciso adorar-te, minha irmã.

Jenny ergueu-o e, olhando-o com expressão triste e meiga, disse:

– Deixa esse excesso de afeição para alguém, que já agora tem mais direito a ela do que eu.





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