Uma Família Inglesa - Cap. 5: V - Uma manhã de Mr. Richard Pág. 58 / 432

– Ho! – repetiu Mr. Richard.

Jenny olhou para o criado de maneira que lhe deu a conhecer a inconveniência da correcção.

– Foi uma promessa que Charles fez a uns amigos… – disse ela – e só soube o dia que era, quando já não ia a tempo de recusar.

Mr. Richard não precisava de ouvir mais nada, para suspender as suas censuras. Tinha já perdido o hábito de discordar da filha. Por isso só respondeu, lendo o Times:

– Sim, sim. Está bom. O mal dessas extravagâncias é dele e por isso…

Nisto entrou, aos saltos, na sala um desses pequenos cães felpudos, pretos e pardos, verdadeiros Átilas dos ratos e rivais dos velhos exterminadores desta raça perseguida.

– Ó Butterfly, good morning! How do you do, sir? – exclamou Mr. Richard, saudando o seu cão predilecto, que lhe estendeu a pata como para um shake-hand. Havia nisto um requerimento a uma fatia de fiambre, o qual o inglês não indeferiu.

O pequeno quadrúpede sentou-se então com familiaridade na cadeira devoluta ao lado do seu dono, fazendo a devida justiça às sobras do lunch que lhe cabiam em partilha.

Jenny erguia-se a cada momento para servir o pai, atendendo a particularidades, fúteis de mais para merecerem a observação do criado ou de outrem que não fosse uma filha.

Numa destas ocasiões, Mr. Richard, como se não tivesse perdido ainda o fio da conversa anterior, disse a meia voz:

– É que há oito dias que nem aparece no escritório e… é feio isso.

Jenny não respondeu.

Era claro que durante todo o tempo, em que tinham guardado silêncio, o mesmo pensamento ocupara o espírito de ambos.

Receio que os redactores do Times não tivessem desta vez conseguido cativar a atenção do seu leitor.

Levantou-se por fim o inglês.

Lavando as mãos e estendendo a vista pelos floridos tabuleiros do jardim, murmurava ainda:

– Parece mal.





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