Uma Família Inglesa - Cap. 1: I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor Pág. 7 / 432

por aí, nos maiores e mais mesclados ajuntamentos, certa ordem de tipos masculinos, hesite em atribuir-lhes por pátria a velha Albion, a filha dos nevoeiros, a rainha dos mares, a terra dos meetings, dos puddings e de muitas coisas mais?

Pois bem, todos esses caracteres, todos esses sinais distintivos dos mais perfeitos exemplares da classe, achavam-se reunidos na pessoa de Mr. Richard Whitestone, como certidão de naturalidade, limpa da menor viciação.

Era aquela conhecida tez, quase cor de tijolo; aqueles olhos azuis, à flor do rosto, a resplandecerem como safiras; aqueles cabelos e suíças ruivas, que, sem grande violência de imagem, poder-se-ia talvez comparar às labaredas do fogo, que lhe inflamava constantemente as faces injectadas; os dentes regulares, como enfiaduras de pérolas, e alvos, como os caramelos das montanhas; a postura erecta; os movimentos prontos, e no rosto o tal continuado ar de satisfação.

Do vestuário podia dizer-se quase o mesmo. – Não falseava o tipo. Era ainda inglês de lei.

Um pequeno fraque de pano azul, fabricado nas melhores oficinas de Yorkshire ou do West of England; as calças, curtas e estreitas, dentro das quais as descarnadas tíbias podiam fazer o efeito do êmbolo em corpo de pneumática; as botas esguias e compridas, onde a elegância era sacrificada à solidez; gravata e colete alvíssimos, como os de um lorde do parlamento, e, de Inverno, vestidura completa de gutta-percha que, nestas épocas utilitárias e prosaicas, veio substituir as impenetráveis armaduras da Idade Média – tais eram as peças principais do guarda-roupa do honrado negociante. Coroava finalmente tudo isto o chapéu, aquele chapéu de forma invariável, castelo roqueiro inacessível às ondas destruidoras da moda; baluarte inabalável





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