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Capítulo 9: IX - No escritório

Página 97
Ai, que impertinente que estás!… Adiante! adiante! adiante! … Espera, espera… Lá te esqueceu um D!… E agora?… Agora vê se te mexes entre essas duas letras… Assim… Ah!… não toques nos SS… assim… Bem… Continua, mas com tento… Então! Não querem ver que paras outra vez? Ora isto é de mais!… Deixa estar que… Oh!

Era um borrão que lhe caía no meio da página e lhe inutilizava a correspondência quase no seu termo.

«Trai la rai, la rai, larai lai

Trai, larai, larai, larão, lão

Trai larai, lai, larai, larai lai,

Trai lari, lari, lari, larão lão

Trai lari, lari, larão lão.»

Isto era a trautear o hino da Carta, coisa que ele fazia sempre nestas ocasiões críticas. E sem mais alguma observação, pôs a folha suja de lado, preparou outra e encetou nova correspondência, não sem primeiro substituir a pena, dizendo ao deixá-la:

– Descansa. Hoje não estás nos teus dias.

Vem cá tu – dizia para outra. – Vê lá como te portas!

E, olhando fixo para ela:

– Hum! Não tens lá muito boa cara! não… Ora vamos a ver… Vá, despacha-te que tenho mais que fazer!… Abre os bicos… abre… Assim… bem! Sim, senhora!… Bravo!… Ninguém havia de dizer que tu… Cáspite!…

E com estas palavras de animação ia aplaudindo o bom serviço da pena e quase lhe parecia vê-la trabalhar com mais ardor, assim estimulada.

Foi neste momento que um valente encontrão abriu a porta do escritório, e o terra-nova, precedendo Carlos Whitestone, invadiu o até ali silencioso e tranquilo recinto, principiando logo por entornar a infusa com água, colocada a um dos cantos da sala.

Manuel Quintino, que estremecera com a súbita aparição do quadrúpede, ao ver o estrago que a sua impetuosidade produzira, pôs-se a olhar silencioso para ele e em seguida para a porta, como se contasse com mais alguma invasão, não menos revolucionária do que esta.

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pág. 97 (Capítulo 9)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 97

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432