As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 21: Capítulo 21 Pág. 104 / 174

As férias estavam à porta. O professor, sempre severo, tornou-se mais exigente e austero do que nunca, porque queria que os alunos fizessem provas brilhantes no dia do exame. A sua vara e a sua palmatória poucas vezes paravam agora, pelo menos entre os alunos mais pequenos. Só os rapazes mais velhos e as raparigas dos dezoito aos vinte escapavam às suas tareias. Estas eram muito vigorosas porque, embora sob o chinó ocultasse uma cabeça completamente calva, não era velho e não havia sinais de fraqueza nos seus músculos. À medida que se aproximava o grande dia, toda a tirania que fazia parte do seu feitio vinha mais à superfície. Parecia ter um prazer vingativo em castigar as faltas mais insignificantes. A consequência disso era que os rapazes mais pequenos passavam os seus dias aterrados e a sofrerem, e as suas noites a combinarem vinganças. Não desperdiçavam as ocasiões de fazerem partidas ao mestre mas ele triunfava sempre, pois o castigo que se seguia a cada uma dessas partidas era tão violento que os rapazes nunca deixavam de se retirar vencidos do campo de batalha. Ao fim de muito conspirarem, assentaram num plano que prometia uma vitória das mais brilhantes. Chamaram para o seu grupo o filho do pintor de tabuletas, disseram-lhe do que se tratava e pediram-lhe auxílio. Ora ele tinha as suas razões para ficar encantado, porque o mestre estava hospedado em casa da família do pai e já tinha dado ao rapaz razões de sobra para o detestar. A mulher do mestre devia ir de visita ao campo dentro de poucos dias e nada o estorvaria para realizar o seu projecto. O professor preparava-se sempre para as grandes ocasiões, bebendo até ficar um pouco ébrio, e o filho do pintor prometeu que, quando ele estivesse na conta e a dormir na sua cadeira, na própria tarde do exame, «trataria de tudo». Depois, acordava-o à hora certa para se pôr sem demora a caminho da escola.

Chegou, por fim, o grande dia. Às oito da noite a sala da escola estava brilhantemente iluminada e enfeitada com grinaldas de folhagem e flores.

O professor sentou-se na sua enorme cadeira sobre um estrado, tendo o quadro por trás dele. Estava com ar jovial. Três filas de bancos de cada lado dele e seis filas na sua frente eram ocupadas pelos dignitários da cidade e pelos pais dos alunos. À esquerda, por trás destes senhores, havia um grande estrado provisório, onde estavam sentados os estudantes que deviam tomar parte nos exercícios da noite.





Os capítulos deste livro