As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 103 / 174

O mal-estar de Tom aumentava durante estas formalidades torturantes. O professor fitou todos os rapazes, pensou um momento e começou, virando-se para as raparigas:

- Amy Lawrence?

Um movimento negativo da cabeça.

- Gracie Miller?

O mesmo sinal.

- Susan Harper?

Outra negativa. Seguia-se Becky Thatcher.

Tom tremia dos pés à cabeça, enervado pela gravidade da situação. - Rebecca Thatcher?

Tom olhou para a cara dela, que estava branca de medo. E o professor continuou:

- Rasgou... Não baixe os olhos, olhe para mim. Rasgou este livro? As mãos dela erguiam-se numa prece, e uma ideia passou rapidamente pelo cérebro de Tom, que se levantou gritando:

- Fui eu que o rasguei.

Todos olharam pasmados ante esta loucura inacreditável.

Tom ficou de pé um instante para coordenar ideias, mas, quando se adiantou, para receber o castigo, a surpresa, a gratidão, a adoração que brilhavam nos olhos da pobre Becky pareceram-lhe recompensa mais do que suficiente para um cento de sovas . .Animado pelo esplendor do seu próprio acto, suportou sem uma queixa a mais terrível sova que já alguma vez Mr. Dobbins tinha dado, e recebeu com a maior indiferença a ordem cruel de ficar duas horas na escola depois de os outros saírem, porque bem sabia que o esperariam lá fora até que acabasse o seu castigo. Assim, não contava aquele tempo como perdido.

Nessa noite,Tom foi para a cama projectando vingar-se de Alfred Templo pois, envergonhada e arrependida, Becky contara-lhe tudo, sem omitir a sua própria traição; mas em breve até o seu desejo de vingança cedeu o lugar a pensamentos mais agradáveis e, por fim, adormeceu tendo no ouvido aquelas palavras de Becky:

- Tom, como pudeste ser tão nobre?





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