As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 12 / 174

Tom chegou diante da tia Polly, que estava sentada perto de uma janela das traseiras da casa; essa janela era a de uma divisão que servia de quarto de dormir, de casa de jantar e de biblioteca. O calor do Verão, o sossego, o perfume das flores e o zumbido sonolento das abelhas tinham tido o seu efeito: cabeceava sobre o seu trabalho de malha, sem outra companhia além do gato, adormecido no regaço. Puxara os óculos para a cabeça, julgando-os assim mais seguros. Pensara que Tom se devia ter afastado havia muito e ficou deveras surpreendida ao vê-lo aparecer e apresentar-se deste modo:

- Agora posso ir brincar, tia?

- O quê, já? Até onde caiaste?

- Está tudo pronto, tia.

- Não mintas, Tom. Bem sabes que não suporto isso.

- É verdade, tia, está tudo pronto.

A tia Polly confiava pouco nestas palavras e saiu para ver com os seus próprios olhos, pensando que já se daria por satisfeita se vinte por cento do que Tom dizia fosse verdade. Quando chegou e viu todo o tapume caiado, e, não só caiado, mas com umas poucas de demãos, além de uma tira no chão, o seu espanto foi quase indescritível.

- Francamente! Não se pode negar que és capaz de trabalhar quando te dispões a isso, Tom.

Mas logo diluiu o elogio acrescentando:

- Só que é muito raro que te disponhas a isso, tenho de dizê-lo. Agora vai brincar, mas toma cuidado. Vem cedo, se não apanhas uma sova.

Estava tão maravilhada com o esplêndido feito do rapaz que o levou junto de um armário, escolheu uma bela maçã e fez-lhe um sermão acerca do valor e gosto de um prémio bem ganho à custa de esforço honesto; enquanto terminava com uma citação da Sagrada Escritura, ele surripiou um bolo.

Em seguida saltou cá para fora e viu Sid nos primeiros degraus da escada que levava aos quartos do segundo andar. Tom tinha a mão leve, e em pouco tempo os socos choveram à roda de Sido Antes de a tia Polly voltar a si da surpresa e correr a separá-los, seis ou sete socos acertaram em cheio no seu alvo. Tom pulou por cima do tapume e desapareceu. Havia ali uma cancela, mas como era para o serviço de todos, tinha sempre muita gente e aquela saída era mais rápida.

A alma de Tom estava em paz, agora que tinha ajustado contas com Sid por este ter chamado a atenção da tia para a linha preta, causando-lhe assim uma arrelia.

Tom caminhou junto às casas e voltou para uma rua enlameada, que dava para as traseiras do estábulo onde a tia tinha a vaca.





Os capítulos deste livro