As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 13 / 174

Passados momentos estava a salvo de que o apanhassem para o castigar.

Então apressou-se para o largo da aldeia, onde os rapazes, formados em duas companhias «militares», deviam encontrar-se para um combate, segundo uma combinação prévia. Tom era general de um desses exércitos e Joe Harper - um amigo de infância - general do outro. Estes dois grandes comandantes não se dignavam combater em pessoa - o que competia a outros de menos importância -, mas ambos, sentados numa elevação do terreno, dirigiam as operações transmitindo ordens aos seus ajudantes-de-campo. Depois de um longo e renhido combate, o exército de Tom ficou vitorioso. Nessa altura contaram-se os mortos, trocaram-se os prisioneiros, combinaram-se os termos do próximo encontro e marcou-se o dia para ele. Em seguida os dois exércitos formaram e marcharam, cada um para seu lado, enquanto Tom voltava sozinho para casa.

Ao passar pela casa onde morava Jeff Thatcher, viu no jardim uma rapariguinha desconhecida, de lindos olhos azuis e cabelo loiro apanhado em duas tranças compridas, com um vestido branco e pantalonas bordadas. O herói sentiu-se vencido. Uma certa Amy Lawrence desapareceu do seu coração sem deixar atrás de si o mais leve rasto. Pensara amá-la até à loucura, julgara a sua paixão uma espécie de idolatria, e agora via que não passava de uma simples inclinação. Levara meses a conquistá-la e, quando, uma semana antes, se decidira a aceitá-lo, julgara-se o rapaz mais feliz do mundo. Acontecera isto há uns escassos sete dias quando, ali, num instante, ela deixou de fazer parte da sua vida, como uma estranha que tivesse passado por ele.

Olhou furtivamente aquele novo anjo, até que se viu descoberto; então fingiu ignorar a sua presença e começou a fazer toda a espécie de macaquices para que ela o admirasse. Levou assim certo tempo, mas, no meio de um difícil e perigoso exercício de ginástica, olhou de revés e viu que a pequena ia a caminho de casa. Aproximou-se do tapume e encostou-se muito triste, na esperança de que ela parasse ainda um pouco. A pequena deteve-se na escada e depois encaminhou-se para a porta, mas, quando a viu já na entrada, Tom suspirou. Logo em seguida, o seu rosto iluminou-se porque, antes de entrar, a rapariguinha atirou-lhe um amor-perfeito.





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