As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 29: Capítulo 29 Pág. 137 / 174

A pequena continuou a pensar no caso e tornou:

- Parece-me que não está lá muito certo, mas…

- Não sejas pateta! A tua mãe não chega a saber. Que mal faz? O que a tua mãe queria é que tu estivesses bem, e estou certo de que te teria dito para ires para lá se te tivesses lembrado. Tenho a certeza que dizia.

A esplêndida hospitalidade da viúva Douglas era uma tentação bem forte que, juntamente com os argumentos de Tom, venceu a resistência de Becky.

Decidiram, pois, não dizer nada a ninguém a respeito do programa da noite. Passados momentos, ocorreu a Tom que talvez Huck fosse nessa mesma noite miar à sua porta, e esta ideia perturbou de certo modo o seu prazer mas, apesar disso, não desistiu de ir a casa da viúva Douglas. Por que havia ele de desistir? - pensou. Se não tinha ouvido o sinal na véspera, qual a razão para Huck o fazer nesse dia? O prazer certo dessa noite pesou mais na balança da sua consciência do que o tesouro incerto e, como rapaz que era, decidiu ceder à tentação maior, e não tornar a pensar na caixa do dinheiro durante todo o dia.

O barco amarrou junto de um vale arborizado, três milhas abaixo da aldeia. Aquela multidão de crianças desembarcou e, em breve, todo o bosque e os pontos mais escarpados ecoaram de gritos e risos. Fizeram tudo o que podiam para se aquecer e para se estafar, por isso, daí a certo tempo, voltaram cheios de fome. Começou então o desgaste nas coisas boas que levavam. Depois do banquete, estenderam-se ou sentaram-se, a repousar e a conversar à sombra dos grandes carvalhos. Ficaram ali um bocado, até que alguém perguntou:

- Quem quer ir à gruta?

Todos quiseram. Prepararam-se maços de velas e começaram todos a subir o monte, visto que a entrada da gruta ficava na parte superior deste. A abertura tinha o feitio da letra A e a porta de carvalho, grossíssima, fechava com uma aldraba. Dentro havia uma divisão, fria como um frigorífico, e por cujas paredes calcárias corria sempre uma certa humidade. Era romântico e misterioso, ao mesmo tempo, estar lá dentro na escuridão, a olhar para o vale verde e alegre, inundado de sol. Mas o interesse da situação em breve diminuiu, e o silêncio deu lugar a vozes e risos. Mal se acendeu uma vela, todos correram para aquele que a segurava. Houve luta, o possuidor da luz fugiu, mas, finalmente, cansados também daquele divertimento, desfilaram todos pela descida íngreme que levava à galeria principal da gruta, cada um levando na mão uma luzinha trémula, que ia revelando as saliências das paredes rochosas e baixas quase até o ponto onde estas se uniam por cima das cabeças.





Os capítulos deste livro