A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 1: I Pág. 10 / 508

Miguel um ano. E ainda hoje se está para saber quem foi. Num ermo destes só os santos podem valer a uma criatura.

Henrique sentiu-se pouco à vontade com as elucidações do cicerone; olhou para ele com desconfiança e quase julgou ver moverem-se sombras suspeitas por entre os troncos dos pinheiros. Apalpou nos coldres os cabos das pistolas, e aproximou as esporas dos ilhais da cavalgadura.

Dentro em pouco atingiam o indicado tronco de sobreiro, de junto do qual deviam avistar a aldeia.

Henrique olhou; viu lá no fundo do vale muitas árvores, mas continuou a não enxergar vestígios de casa.

- Onde está a aldeia que dizias, homem?

- Daí já se vê - disse o almocreve, correndo para alcançar o cavaleiro. - Não vê V. S.ª, além, além, aqueles pinheiros mansos?

- Vejo, sim.

- Pois já são da freguesia. Se fosse mais claro, havia de avistar a casa do guarda. É a tapada dos Bajuncos, que pertence à Morgadinha dos Canaviais.

Henrique não respondeu. A distância a que ficava ainda a tal tapada fê-lo suspirar.

Enfim, passados minutos, principiaram a descer para o vale, costeando sempre obliquamente o monte.

Cem passos andados, fez-lhe o almocreve notar um pequeno ponto branco, que se divisava ao longe por entre a rama do arvoredo, mas já indistintamente, em virtude do adiantado da hora e da intensidade da neblina.

- Lá está a capela da freguesia - dizia o homem.

- Ali? - É um século para lá chegar?

- Qual! Estamos aqui, estamos lá. Eh, ruço! E aplicou uma vigorosa vergastada nas ancas do macho, que acelerou o passo.

O homem continuou:

- Até se fosse mais dia podia-se ver daqui a pedra que está no cemitério novo, e que é da família da Morgadinha dos Canaviais.

Foi a mãe dela a primeira pessoa que lá se enterrou, e até hoje mais ninguém.





Os capítulos deste livro