A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 7: VII Pág. 105 / 508

Ermelinda percebeu a perturbação do pai e disse-lhe carinhosamente:

- Para que está agora a pensar nessas coisas que o afligem, meu pai?

- Deixa-me cá, rapariga. Isto às vezes também faz bem. Mas, por isso, quando entro em casa e te vejo, pequena, e te vejo com boas cores e alegre... nem eu sei o que tem mão em mim, que não me ponho a dançar. Ah!... Ah!... Ninguém tem uma filha como eu! Olhe que não, Sr. Augusto; mal fica a mim dizê-lo, mas... Lá por Lisboa e por o Porto há muita menina galante, isso há; muita inglesinha loira, bonitas como anjos, mas cabelos assim doirados? - e passava com orgulho os dedos pelos bastos cabelos de Ermelinda - mas uma pele assim delicada? - e afagava-lhe com as mãos a face, quase a medo - mas olhos assim a meterem-se mesmo pelo coração à gente? - e beijava-lhos com paixão - isso é que eu ainda não vi, nem tenho de ver. Como o Senhor concedeu um anjo destes a um selvagem como eu, é que não sei... É a imagem da mãe!... Ela também era poucochinha de si... miudinha e... Mas não pensemos nestas coisas. Sim, senhores; eis-me aqui outra vez, e por sinal com a minha vida por arranjar e eu posto à taramela. Trago-lhe uma encomenda, Sr. Augusto, e muitos recados, muitos.

- Já sei; Ângelo escreveu-me.

- Escreveu? Ah, Sr. Augusto, que rapaz aquele! Aquilo é uma pérola! Com três milheiros de demónios do Inferno! dali há-de sair coisa grande. Eu não queria morrer sem ver o que saía dali. Brinca como uma criança, mas, quando quer, põe-se sério, e fala como homem. E nada de soberbas, nem de ares enfastiados, como tomam aqueles senhores da cidade, quando conversam com uma pessoa rústica... Qual história! Ele tudo quer saber, tudo pergunta... Isso é um nunca acabar, quando lá me pilha... Então como vai Fulano? e Sicrano? E se já se fez aquela casa, e se já acabou aquela obra, e se já casou este, e se inda vive aquele, e mais para aqui e mais para acolá, e tudo quer muito explicado.





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