A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 7: VII Pág. 108 / 508

Haviam de andar muito gordos. Eu queria- os ver com uma enxada a trabalhar todo o dia no campo, e que lhes dessem depois raízes para roer, a ver se gostavam. Ora, senhores, que é forte desgraça a minha! Mulher, a religião manda que olhemos pelo nosso cadáver. É má cristã a mulher que deixa o seu marido na penúria. Isto é que os padres deviam ensinar. Vai-lhes lá perguntar se, quando chegam a casa, não têm a sopa e o toucinho à espera deles.

- Cala-te, tentador, que me andas a tentar! Cala-te, tem vergonha nessa cara. Olha agora! Eu queria ver-te com o trabalho do Sr. Padre Domingos. Coitadinho! desde as cinco horas da manhã até agora a confessar!

- Confessar é parolar; ora adeus!

- Tu estás doido, alma perdida?

- E cuidas que ele não leva marmelada nos bolsos?

- Ó chagas do seráfico S. Francisco, ainda mais terei de ouvir?!

- Mulher, deixemo-nos de histórias; com jejuns ninguém engorda. Só os santos... de pau.

- Vamos, vamos - disse o Herodes, intervindo. - Não vale zangarem-se por causa disso. A minha pequena deve ter o caldo quase feito. Comam-no em santa paz e deixem-se de testilhas, que não é bonito; e muito menos entre marido e mulher. Você, compadre, também tem culpas em cartório; vamos lá. Há por aí umas certas capelas, onde passa também bastante tempo em devoção; enquanto à comadre, acredite o que lhe digo: a palavra de Deus não é tão difícil, que uma pessoa precise de estar tanto tempo a ouvi-la explicar. Eu cá penso que, fazendo a gente aquilo que lhe diz o coração, e que não sente nenhuma aquela em fazer, vai por caminho direito. E mais vale fazer o que Deus manda do que levar a vida a pedir perdão por o não ter feito. E também não é bonito estarem as mulheres, horas e horas, pegadas ao confessionário, como lapas nos rochedos, nem.





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