A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 9: IX Pág. 131 / 508

na chuva, no Inverno e no Verão, nos prós e contras da vida do campo e de vários outros assuntos secos de si e já, além disso, muito esgotados, e tudo cortado por aquelas pausas e silêncios constrangidos e insuportáveis que o leitor há-de conhecer por experiência.

Digamos nós a verdade: estes dois homens não sentiam um pelo outro aquela súbita e inexplicável simpatia que abre os corações e dá margens a confidências.

Nos dois curtos encontros que tinham tido, manifestara-se entre eles certa frieza mais que cerimoniática, uma quase desconfiança instintiva.

Chegaram as senhoras. Foram acolhidas com prazer por ambos.

Ainda quando não fossem senhoras, o seriam; a chegada de um terceiro, quando dois indiferentes estão na presença um do outro, em entrevista forçada e fatigadora, é sempre saudada interiormente como uma redenção.

Madalena e Cristina vinham ambas formosas, com a espécie de mantilhas ou capuzes de que usavam, adequados aos rigores de uma manhã de Dezembro.

Apareceram ambas a rir. Foi o caso que, passando próximo do quarto de D. Vitória, pé ante pé, para não a acordarem, esta pressentiu- as, e, mesmo do leito, perguntou-lhes:

- Então já vão, meninas?

- Vamos, tia; vamos, mamã - responderam as duas ao mesmo tempo.

- O Luís já partiu com o almoço?

- Já partiu, já, minha senhora.

- E ides agasalhadas?

- Como se fôssemos para a Sibéria - respondeu Madalena.

- Olhai, sempre levem os guarda-chuvas por cautela. E ide com Nossa Senhora.

- Cá os levamos. Adeus, tia; adeus, mamã.

- Adeus, filhas; até logo, se Deus quiser. Olhai lá, não vos estafeis.

Ora os tais guarda-chuvas é que não iam. Para quê? Com uma manhã daquelas, que nem de Inverno parecia, pois que até o frio abrandara com o vento! Por isso é que vinham ainda a rir.





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