A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 10: X Pág. 148 / 508

Isso não é bom! Se vai assim, ou terá de nos deixar cedo, ou grandes desavenças suscitará por aí. Não repara que estes modos são próprios do campo?

- Perdoe-me, prima Madalena; mas confesso que nunca tive demasiado jeito para lidar com doidos. Deve confessar que este homem...

- É um homem de bem - atalhou Augusto com voz firme e com uma severidade de expressão que até ali não mostrara ainda.

Henrique voltou-se admirado e fitou-o em silêncio. Augusto arrostou firmemente aquele olhar.

- Não o nego - respondeu Henrique, pouco depois - mas infelizmente os homens de bem envelhecem, como os outros, e a extrema velhice traz a imbecilidade.

- Engana-se; esse homem, apesar de algumas fantasias, tem ainda um juízo são e uma razão clara.

- Acha? - tornou Henrique já algum tanto azedado. - Há-de dar-me licença de não fazer obra por as suas apreciações... se me é permitido.

- Procede mal - redarguiu Augusto. - Porque eu conheço aquele homem há muito e o senhor acaba apenas de o ver pela primeira vez. Foi o senhor quem primeiro deu às suas palavras um tom irritante, que desafiou uma digna correcção. Não lhe ficaria mal, se tivesse sido mais generoso. A consciência lho está dizendo neste momento melhor do que eu.

- Lê fundo nas consciências dos outros!

- Não é difícil. Em todos os homens a consciência tem uma só maneira de ser. Reprova sempre o mal, aponta sempre a culpa.

- Estou admirando a súbita loquacidade que se lhe manifestou! Até aqui supunha-o taciturno. Vejo que lhe mereço a fineza de abrir uma excepção aos seus hábitos de laconismo em meu favor.

Muito agradecido. Isso que dizia eram máximas ou pensamentos morais? Não reparei.

Augusto corou, mas respondeu com firmeza:

- Nem uma nem outra coisa; é um género muito mais modesto do que qualquer dos dois.





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