A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 10: X Pág. 151 / 508

E, apesar de tudo, tinha este templo um ar de solenidade manifesto.

Donde lhe vinha ele? Da sua mesma pobreza e nudez, do silêncio que reinava em torno, da altura a que se erguia, do isolamento em que estava.

Ali dentro demoraram-se os quatro visitantes, Madalena e Henrique examinando alguns dos quadros dos milagres; Cristina, que prolongara mais do que a prima a oração que fizera, contemplando a imagem da Senhora; Augusto com os olhos fitos nas colunas do altar, porém, não sei se pensando nelas.

Esperava-os uma surpresa à saída.

Realizara-se o prognóstico do ervanário.

O vento sul que, segundo ele notara, soprava já havia algum tempo, viera condensar os vapores, que arrasta de ordinário na sua corrente, e empanar com eles a limpidez do firmamento. O azul do céu semeara-se, pouco e pouco, de pequenos flocos brancos, de manchas irregulares, e de longos e encurvados veios que lhe davam uma aparência quase marmórea. Cedo estas massas de nuvens cresceram, tocaram-se, confundiram-se, acabando por tingir uniformemente toda a extensão do firmamento. Ao mesmo tempo, outras nuvens, mais pesadas e mais escuras, começaram a erguer-se do Sul e caminharam impetuosas no espaço, como montanhas móveis, que viessem, em pavorosa carreira, de encontro às serras, que as aguardavam firmes.

Um denso véu de nevoeiro escondia já a paisagem, quando saíram da ermida.

- Depressa! - exclamou Augusto - já não há tempo a perder! Desçamos antes que a tormenta nos colha.

- Tem medo? - disse Henrique em tom de mofa. - Um montanhês!

- Talvez tenha; em todo o caso há-de ver que não é de inimigo pouco digno de o inspirar. Por agora peço-lhe tréguas às zombarias e, por amor destas senhoras, aconselho-o a que trabalhe por apressar a descida.





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