A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 10: X Pág. 152 / 508

Felizmente que o criado já partiu. É um embaraço de menos. Vamos. - Detendo-se, porém, disse para Madalena: - Se descêssemos por o outro lado, minha senhora?

- Para quê? - respondeu esta. É um momento enquanto chegamos abaixo.

A tempestade caracterizava-se cada vez mais; crescia a cerração do ar; os álamos gemiam, vergados pela impetuosidade das lufadas do sul; a chuva principiou por grossas gotas, e cedo aumentou assustadoramente; havia na atmosfera surdos rumores de tempestades longínquas; algumas nuvens tomavam uma cor térrea, outras um carregado de chumbo, ambas igualmente sinistras.

Cristina, pálida de susto, murmurava em voz baixa orações fervorosas; Madalena sorria para a animar, mas ela própria estava inquieta.

Não era de facto uma empresa de todo fácil o descer o monte por um tempo daqueles. O caminho, já de si íngreme e precipitoso, era quase impraticável quando as correntes se despenhavam por ele, como em catadupas, e os ventos vinham despedaçar-se furiosos de encontro às arestas salientes da rocha. Era necessário estar muito amestrado para o descer sem perigo.

Augusto era de todos o que melhor o conseguiria; assim não tivesse de repartir os seus cuidados por tantos. De pequeno se costumara àquelas aventuras; e já então seguia, sem vertigem, a mais estreita borda dos despenhadeiros do monte.

A tudo porém atendia agora, desenvolvendo uma actividade e perícia que inspirava alento e confiança aos mais. Ágil, como um animal montês, girava em volta da pequena caravana, de que tacitamente fora reconhecido chefe. Ora adiante a dirigir os passos pelos lugares de mais fácil trânsito, ora à retaguarda a dar a mão a Madalena, que vira em embaraço, ou a amparar Cristina, a quem muita vez chegou a levantar nos braços, para a fazer franquear um ponto do caminho, em que ela parara, sentindo que lhe resvalavam os pés no declive e na humidade do chão.





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