A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 12: XII Pág. 181 / 508

- Que sabes dele?

- A seu tempo o direi.

- Como te vieram essas presunções de conhecedor dos corações alheios? Não tinhas isso, quando daqui foste.

- Às vezes vê-se melhor de longe.

- Os de vista cansada... de muito ver.

- Bem; depois falaremos. Vamos lá ter com a nossa gente, que o pai não tarda aí.

De facto, meia hora depois estava a família toda reunida numa das salas principais da casa. O conselheiro, sentado numa cadeira de braços, tinha ao colo Mariana; Cristina, a pé, encostava-se-lhe familiarmente ao ombro; a Morgadinha, sentada em tamborete baixo, apoiava o braço, em que recostava a cabeça, em um dos joelhos do pai. Do outro lado da sala, D. Vitória, sentada no sofá, servia de travesseiro a um dos pequenos, que, apesar de prometer estar acordado, para que o deixassem ficar a pé, adormecera. Junto deste, Ângelo fazia frequentemente rir sua tia e Eduardo com as histórias que lhes contava.

A conversa cedo se generalizou. Era uma dessas conversas íntimas, familiares, em que se referem as mais insignificantes circunstâncias da vida doméstica; conversas cujo suave perfume só em família se aprecia.

Pobre do estranho que por acaso se encontra num desses círculos apertados pelos estreitos laços da amizade e do parentesco, e se vê obrigado a ouvir a minuciosa crónica das ocorrências da casa, que não é a sua! É uma patética ilusão a de certas famílias, que imaginam que para todos é de igual interesse a narração dos sucessos domésticos, que tanto as deleitam, e com ela entretêm o primeiro indiferente que se lhes depara; tudo trazem à luz: o dito agudo da criança de três anos, os incómodos que sofreu na primeira dentição, as espertezas do gato favorito, as razões ponderosas que aconselharam a mudança de um





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