A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 12: XII Pág. 180 / 508

- É provável que por aí venha. A tia Vitória insiste em que lhe chamemos primo. Aviso-te disso.

- Sim? E a tia? Ralha ainda muito com os criados?

- Coitada! Achei graça, há dias, à Joana, que com muita ingenuidade se me veio queixar de que ela até o anjo da guarda lhe ocupava em serviço próprio. Tu sabes que a tia, quando está com muito sono, tem aquele costume de dizer às criadas que a encomendem ao anjo da guarda delas. Mas vamos.

- Espera... e... e o Cancela trouxe-vos aquelas encomendas?

- Trouxe.

- É verdade; e a filha dele? A Lindita?

- Já cá me ia tardando a pergunta - notou a Morgadinha, rindo. - Essa anda contente, como quem nada tem a penalizá-la; nem saudades.

- Ora vamos, Lena; não te perdoo a malícia.

- Então deveras esse coração está assim tomado?

- Não te informo do meu coração, que o não levo comigo, quando daqui vou. Cá me fica; e uma grande parte dele no teu poder. Eu sou que pergunto: em que estado mo entregas?

- Muito doente.

- Sim? E o teu?

- O meu? Ah! nem eu sei dele. Olha: isto de corações são como as crianças. As travessas tantos cuidados dão às mães, que a todos os instantes querem saber o que elas fazem e onde estão; as sossegadas inspiram tal confiança, que nem sequer nelas se pensa. O meu coração é um modelo de serenidade.

- Então ainda nenhum cavaleiro errante ou trovador...

- O sítio é pouco abundante em heróis. O único destas imediações, capaz de ferir a imaginação e comover os afectos de uma mulher, é o Sr. Joãozinho das Perdizes; mas esse é um Actéon insensível, que...

- É verdade - disse Ângelo, rindo - lá vi também esse javali na venda do Damião Canada. Mas... Não sei que pense, Lena. Eu ainda um dia te hei-de dizer umas coisas.

- A mim? A respeito de quê?

- Do teu coração.





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