A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 12: XII Pág. 183 / 508

Era um salutar descanso dos continuados esforços da sua vida de Lisboa; lá a luta; aqui o repouso.

Por isso ouvia com atenção e aplaudia com vontade as narrações da cunhada, de Madalena, de Cristina e até da pequena Mariana.

E, apesar de todo este encanto, em que parecia cair, o conselheiro não poderia resignar-se a trocar por ele para sempre o vertiginoso movimento da sua vida política.

Eram-lhe já necessidade aquela contenção, aquele esforço de espírito, aquelas desconfianças contínuas, aquele jogo de astúcias, que lhe tomavam em Lisboa todo o tempo.

Quinze dias no campo bastavam para o fazerem suspirar por as lides e o afã da capital; nem os afectos da família o retinham.

A política é uma embriaguez; nos intervalos em que o espírito se sente desanuviado dos vapores em que ela o envolve, pesam-nos os desacertos a que fomos arrastados; o desgosto do mal feito insinua-se-nos no coração; cedo, porém, a violência dos hábitos subjuga os remorsos da consciência, e de novo nos arrasta.

O carácter íntimo da conversação foi levemente modificado por a entrada de D. Doroteia e de Henrique de Souselas, que de Alvapenha vieram visitar o conselheiro, mal tiveram notícia da sua chegada.

O conselheiro acolheu com jovial cordialidade a senhora de Alvapenha e com delicada franqueza Henrique, que ele conhecia de Lisboa. Frequentavam ambos os primeiros círculos da capital e, por mais de uma vez, tinham trocado algumas palavras ou tomado parte em conversas e discussões comuns.

Passado algum tempo depois dos cumprimentos, o serão animou- se de novo, fragmentando-se, porém, a conversação.

D. Vitória tomou à sua parte D. Doroteia e passou a fazer-lhe amargas queixas a respeito dos criados do Mosteiro, ao que D. Doroteia acudiu com conselhos de resignação cristã.





Os capítulos deste livro