A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 12: XII Pág. 184 / 508

Ângelo conversava com Madalena e Cristina, a quem frequentemente fazia rir.

Henrique e o conselheiro, próximos do fogão, estavam empenhados num diálogo muito animado.

O conselheiro parecia estar falando com uma sinceridade e candura que surpreendiam Henrique, que ainda o não tinha observado por esta face.

- É uma triste verdade - dizia por exemplo o conselheiro num ponto adiantado da conversa, referindo-se a algumas considerações de Henrique sobre a felicidade daquela vida do Mosteiro. - Tenho esta família que vê; todos me querem sinceramente aqui, e não sei resistir à fatal necessidade que me arranca de todos estes braços para me lançar ao turbilhão da política e disso que se chama o mundo! Pois amo deveras a minha Lena, creia.

- É um dever que cumpre. Nestes tempos de má-fé política, quem se sente com a coragem de se votar, corpo e alma, à defesa despreocupada dos bons princípios... Nos lábios do pai de Madalena passou um ligeiro sorriso, meio de descrença, meio de melancolia.

- Defesa despreocupada? Isso é quando Deus quer - respondeu ele. - Olhe, Henrique, visto que me veio encontrar em minha casa, a cuja porta eu deixo, ao entrar, todas as máscaras e artifícios de que uso no mundo, vai ver em mim o homem que talvez não esperasse e que, já lhe digo, debalde procurará reconhecer um dia, se me observar outra vez em Lisboa. O que lhe vou dizer não lho diria, nem lho repetirei lá. É verdade que estes ares do campo também actuarão em si para me apreciar e tomar à boa parte a franqueza. Lá não acreditaria nela; se por acaso não a aproveitasse como arma política contra mim...

- Pois julga?...

- Peço perdão, se o ofendi com isto. Não era esse o meu intento, mas é prática tão geral!... Se um dia for político, o que lhe não desejo, dir-me-á.





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