A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 14: XIV Pág. 215 / 508

- Esta? Como se engana! Não sabe que as rabanadas são a essência da ceia de Natal? E logo havia de confiar-lhas?

- Ah! Não ligava tanta importância a estas representantes da pastelaria primitiva, notáveis porque recordam a infância da arte! Enquanto a mim, já no tempo de peregrinação dos Hebreus, Moisés lhes ensinava a cozinhar disto.

Madalena abanou a cabeça em sinal de repreensão.

- Perdoe às pobres rabanadas o pouco ar de moda que têm. A sua elegância é implacável, primo Henrique. Um indigesto manjar francês seria de melhor tom, bem sei. Até nisso!

- Para provar que estou arrependido da minha irreverência, consinta-me que a coadjuve, prima.

- Não pode ser; pesa sobre mim uma tremenda responsabilidade.

- Isso equivale a recusar-me o foro de família, que tão humildemente reclamo.

- Justamente - respondeu Madalena. - Eu sou muito escrupulosa nisso. Faz mal em não reclamar esse foro a Cristina, que talvez encontrasse mais disposta a conceder-lho.

- Mas, se me não engano, foi a prima Madalena quem primeiro me conferiu o apreciável título de parentesco com que nos tratamos.

- O de primos? Esse sim; mas não tem os privilégios que lhe quer dar.

- Que privilégios são?

- Ah!... o de colaborar numa ceia de consoadas, por exemplo.

- Parece-lhe, priminha, que será muito exigir o que eu peço?

- perguntou Henrique a Cristina, que principiara a escutá-los.

- Não ouvi - respondeu esta, corando e sorrindo, como sempre que lhe falava Henrique.

- Escusado é consultar Cristina - acudiu a Morgadinha - porque em muitas coisas pensa ela em oposição comigo. E nisto...

- E nisto?...

- Nisto de atender a requerimentos, é talvez mais condescendente.

- Ao que estou vendo - disse o conselheiro jovialmente - grandes coisas se tinham passado aqui, antes da minha chegada.





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