A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 14: XIV Pág. 222 / 508

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- Valia mais esperar algum tempo. A vida dele não pode ser muito longa. Deixem-no morrer em paz, à sombra daquelas árvores a que ele quer tanto. Que importa passar mais alguns anos sem uma estrada?

- Poesia! - disse o conselheiro, sorrindo para Henrique, que lhe correspondeu.

- Perdão! - acudiu Madalena, corando - é caridade.

- Ora vamos, Lena. Sê razoável. Todos sofrem no mundo sacrifícios maiores do que esse; eu mesmo, que me não tenho ainda assim por vítima da sorte:

- E não haveria outro meio? - perguntou Ângelo. - Acaso há só esses dois lugares para dirigir a estrada?

- Que antes nunca se fizesse! - exclamou Madalena, apaixonadamente.

- Aí temos como o sentimento me torna retrógrada a minha Lena. Já clama contra as estradas como qualquer reaccionário convicto.

Havia um outro traçado, mas esse ia destruir completamente os campos do Brejo.

- Ah! então esse, esse! São bens nossos! - exclamou Madalena com vivacidade.

- São bens de Ângelo, filha, e porventura aqueles que um dia mais valiosos se tornarão para teu irmão.

- Os charcos? - disse Ângelo, encolhendo os ombros. - Ora! Só para viveiro de rãs.

- Hoje pouco mais são do que isso, e como tal no-los pagariam agora. Dentro, porém, de alguns anos, operados ali os trabalhos de esgoto, que eu projecto, verão em que se transforma aquilo. É exigir a um homem muita abnegação pretender dele que sacrifique assim os elementos da riqueza futura de seus filhos; quanto mais que as vantagens não seriam tais que...

- Não pediríamos esmola, meu pai - notou timidamente Ângelo.

- Nem o Vicente a pedirá. Visto que estais tão desprendidos de interesse, que não hesitais em fazer-lhe sacrifício dos vossos bens, podeis ceder-lhe o suficiente para o compensar da perda.





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