Madalena respondeu:
- Julguei que era a da consciência, meu pai.
- A consciência diz-me que há interesses superiores às contemplações com as singularidades de um velho honrado, mas... meio tonto. Na carreira política ceder ao coração é morrer ou ser vencido.
O sentimentalismo exagerado, Lena, tem o inconveniente de dar tanto vulto às vezes a um sacrifício individual, que, para o evitar, não duvida prejudicar maiores e mais gerais interesses e operar sacrifícios mais custosos. É muito tocante na verdade o amor de um velho pelas suas árvores e pela sua casa; porém, mais respeitável é o bem-estar e a conveniência de uma localidade.
- E é tão necessário para a felicidade desta terra o sacrifício a que se quer obrigar o ervanário? - perguntou Ângelo, e Madalena secundou com o olhar a pergunta do irmão.
- Eu te digo, Ângelo - respondeu o conselheiro, levemente despeitado. - Eu tinha a vaidade de me supor ainda prestável para esta gente, que me tem elegido tantas vezes. Dos nossos patrícios, deixem-me dizê-lo aqui em família, não vejo ainda quem dê garantias de desempenhar o mandato muito melhor do que eu.
Chamasse eu contra mim a animadversão deste povo, e eles, à falta de outros, aceitariam amanhã qualquer nome inscrito na carteira do ministro; um homem que nunca tivessem visto, e que nem soubesse em que ponto da carta estava o círculo de que se propunha ser representante. Mas perdoa-me, Lena; talvez isto te esteja parecendo um censurável excesso de vaidade.
- Não, meu pai, ninguém acredita mais do que eu no muito valor da sua influência, mas... Ó meu Deus!... isso vai ser a morte do pobre Tio Vicente! Imagina bem o que é, naquelas idades e com aquele génio, a grandeza do sacrifício que vão exigir dele?
- Custa-me ser obrigado a isso; porém.