A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 15: XV Pág. 237 / 508

Procurei cerrar os ouvidos à voz interior, que desde então me repetia sempre, até junto da cabeceira de minha mãe, cuja maior aspiração era, como sabe, ver-me padre. Mas em vão! Foi desde então uma dúvida constante com que lutava. Com a morte de minha mãe tudo mudou.

»Pela primeira vez respondi à interrogação, que havia tanto tempo dirigia a mim próprio, e consegui por fim responder: «Não». Eis o segredo do meu passado.

- E porque disseste «Não»?

- Porque vi que toda a minha vida era para a consagrar a um sonho; que o sonharia no altar, no púlpito e no confessionário; que para toda a parte me seguiria a imagem, a que eu já não podia renunciar, e a qual então já não contemplaria sem remorsos, como agora o faço. Foi por isto!

- Só? Não te iludirás a ti mesmo, Augusto? Repara bem, que nisso pode ir a tua felicidade! Estás bem certo de que não há uma esperança dentro do teu coração?

- Se a tivesse... - Ia continuar, quando julgou ouvir o rumor de passos na rua.

Cedo batiam na porta duas leves pancadas, e uma voz dizia, de fora:

- Está acordado ainda, Tio Vicente?

O ervanário trocou um olhar com Augusto. A voz era de Madalena.

Augusto ergueu-se com presteza. O ervanário quis retê-lo.

- Onde vais?

- Deixe-me sair. Não poderia vê-la agora. Não estou preparado com a minha indiferença.

- Pobre máscara! - Nesse caso sai pelo quintal.

- Tio Vicente! - repetia Madalena, de fora.

- Eu vou, minha ave nocturna; eu vou já. Espera - continuou em voz baixa para Augusto: - dá-me a tua palavra que não escutarás.

- Dou; mas... promete que nada lhe dirá?

- Eu?!... Louco! Assim te pudesse fazer esquecer, quanto mais... Adeus! Depois de assegurar-se de que Augusto saíra pelo lado do quintal, o ervanário foi abrir a porta da rua à Morgadinha.





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