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Capítulo 15: XV

Página 236
.. interrogando-me e escutando- me com tanta deferência e atenção, que me inspirava coragem, e julgo que me estava dando ares de mais importância junto daqueles pequenos senhores e senhoras que, pouco a pouco, se foram despojando dos seus desdéns e acabaram por me escutar e interrogar também com curiosidade. Já uns me lançavam os braços ao ombro, outros formavam círculo em volta de mim, e cedo fui eu a principal personagem daquela noite. Essa criança... - Era Madalena; adivinhá-lo-ia agora, se já o não soubesse.

- Não podia deixar de ser ela - exclamou o ervanário, com um fulgor de simpatia a iluminar-lhe o olhar. - Era ela; sempre assim foi!

- Era. Esta cena pueril teve uma grande influência no meu espírito. Hoje ainda, se penso nela, acho-a de uma grande significação moral. Pois não é mais apreciável numa criança esta prova de superioridade de carácter, do que nas idades em que muitas vezes a razão e o cálculo a impõem a uma índole naturalmente pouco generosa? Ali era tudo espontaneidade. Desde então a adoro.

O ervanário parecia não ter já o ânimo para sorrir.

- Agora vejo por que trouxeste da cidade aquela grande tristeza. Tão novo!

- É verdade. Foi esse o motivo. Madalena foi sempre para mim afável; inclinava-se sobre o livro em que me via estudar; corrigia, sorrindo, os defeitos da minha educação aldeã, e, se reconhecia progressos no discípulo, manifestava uma alegria que era para mim o maior incentivo e o maior prémio. Fiz os exames. Quando voltei a casa, Madalena, com certo ar de gravidade, que aquela criança já então tomava, perguntou-me, no meio de uma conversa própria de crianças: «E sente-se com génio para ser padre, Augusto?» Já me não lembro do que lhe respondi. Trouxe porém comigo aquela pergunta; trouxe-a para a solidão da minha aldeia.

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pág. 236 (Capítulo 15)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 236

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506