A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 16: XVI Pág. 245 / 508

E Madalena tentou de novo seguir para diante.

Henrique susteve-a outra vez.

- Um momento só, prima Madalena; tenho necessidade de saber se me quer para aliado ou para inimigo.

- Não vejo a necessidade da aliança que propõe, nem as razões para a luta.

- Sejamos francos. A prima deve confessar que a minha presença aqui foi um desagradável contratempo. Uma certa altivez e consciência de invulnerabilidade, de que tinha o incómodo de se revestir sempre que tratava comigo, depois desta importuna ocorrência, terá de se modificar.

- Não havia dado por essa revestidura que diz; mas, se ela existiu, far-me-á o favor de dizer: porque não pode continuar?

- Essa é boa! Porque eu faço a justiça à prima de supor que não vai tão longe a sua hipocrisia.

- Hipocrisia! - disse Madalena, com acento mais severo.

- Perdão; não tive tempo para inventar outro termo mais... brando. Dissimulação talvez lhe agrade mais. Seja dissimulação.

Mas, depois do ocorrido:

- Agora exijo eu que se explique, senhor.

- Ora vamos. Seja razoável. Poder-me-á dar uma explicação... edificante... desta sua excursão nocturna?

- Obsta apenas a que eu lha dê, Sr. Henrique de Souselas, a falta de uma pequena formalidade: a de lhe reconhecer o direito de interrogar-me.

- Muito bem. Cada vez confirmo mais a minha ideia. A prima é uma mulher admirável, uma mulher superior, educada na alta escola de uma sociedade distinta, sobranceira por isso a pieguices provincianas. Tanto mais me encanta! E creia que me envergonho só ao lembrar-me do que terá pensado de mim, vendo-me tomar a sério as suas profissões de fé, tão cheias de franqueza e de candura. Devo ter-lhe parecido bem ridículo! Não é verdade?

- Agora é que me está parecendo bem enigmático!

- Sim? Nesse caso eu me decifro.





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